Holofotes, fama, dinheiro. Ou, será simplesmente, vontade de competir, boa forma, saúde. O que seduz mais nos esportes de alto rendimento?  

Ao falarmos de esportes de alto rendimento, ou esportes vigorosos, parece que estamos nos referindo a um modismo ou a um comportamento da pós modernidade, como a musculação. Não é. A História aponta a direção. As maratonas, por exemplo, uma modalidade esportiva das mais preferidas nos dias atuais, são tão antigas quanto as olimpíadas. Surgiram em homenagem ao soldado grego Fidípides, que se tornou mártir protagonista de uma modalidade de esporte, a cada dia mais popular no mundo. Fidípides foi escolhido para avisar ao povo de Atenas, principalmente às mulheres, que a Grécia vencera a guerra contra o temível exército persa. Os inimigos tinham avisado, caso vencessem, violariam as mulheres e matariam toda a população. Os gregos tinham pressa, porque queriam evitar o suicídio feminino coletivo. Conta que o soldado grego morreu, exausto, logo após dar o recado. Isso foi em 490 a.C.

 Os 40 Km que separam a baía de Maratona da cidade de Atenas, ou os 5.164 degraus da muralha da China, derrubaram fronteiras e aguçaram o interesse dos povos de transformar tudo em lucro. Turismo combinou com economia e fez da prática do leva e traz um negócio para lá de rentável. Qualquer sacrifício passou a valer a pena. A internet leva uma competição de alto rendimento aos clicks de várias outras por todos os continentes. Tem para todos os gostos: futebol, vôlei, basquete, natação, ginástica, corrida, andar de bicicleta, tênis, boxe e ainda o treinamento de força explosiva ou neuromuscular como sprints, exercícios de salto, leg press e extensores do joelho.

Na mesma proporção e voracidade, cresce o time de esportistas amadores, mulheres e homens saradões, executivos, empresários, que seguem o glamour da diversão com o útil e o agradável em roteiros de viagem pelo mundo. Autônomos, esses recreacionistas não tem cobertura de uma agremiação esportiva e, às vezes, nem observam as normas de saúde ao treinar. Muitos correm por correr, inclusive dos alertas médicos.

A ciência colaborou e as pesquisas comprovaram que o exercício leve e moderado são motivo de saúde para todas as faixas etárias. O contrário, a vida sedentária é o fator que mais mata no mundo. Caminhar uma hora por dia evita as cardiopatias. Mas correr 42 Km, distância comum das maratonas mundiais, sem treino e sem preparação adequada, pode causar lesão no coração. É o que dizem médicos da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Correr uma maratona não é para qualquer um, tanto que não é recomendável que um atleta corra em mais de duas maratonas no ano. Quanto maior for o preparo físico, melhor vai ser a circulação cardíaca e melhor o aproveitamento. O coração precisa trabalhar menos para produzir a mesma quantidade de energia. É possível recuperar, mas pode causar desidratação, hipertensão, arritimias agudas ou crônicas. A ausência de fator de risco não quer dizer que seja permitido, todos precisam ter acuidade, observar as variáveis como idade, gênero, peso e fazer avaliação física antes de correr ou praticar esportes de rendimento vigoroso.
O esforço de uma maratona, por exemplo, pode causar um processo inflamatório reversível, mas preocupante. Há destruição de células do coração e liberação de enzimas, que facilitam as lesões. Em atletas amadores, há maior possibilidade de surgirem pequenos coágulos e microlesões. Os doutores Odilon Gariglio Alvarenga, da Minascor e Marconi Gomes, da PBH , cardiologistas, são referências da medicina esportiva. Com eles, vimos que os exercícios físicos de intensidade leve e moderada trazem benefício à saúde. Os de intensidade vigorosa, ou de alta performance, são controversos, porque se referem a atletas extraordinários, do ponto de vista de rendimento. O treino deles ultrapassa o que é prescrito pela medicina. São ultramaratonistas, que extrapolam os níveis recomendados como benéficos para a saúde.
O corpo é como uma máquina. Converte energia química – alimentos - em energia mecânica para sua locomoção. E pode aumentar a intensidade do exercício elevando a taxa na qual a energia é convertida. Um atleta pode correr mais rápido, aumentando a utilização dos combustíveis e regulando a temperatura corporal. Quando ela se eleva para níveis críticos o desempenho é reduzido e traz sério risco para a saúde. O principal mecanismo que auxilia no esfriamento do corpo é a evaporação do suor proveniente da transpiração. Quando o suor evapora, retira calor do corpo. Por isso, não é aconselhável que enxugue o suor durante a atividade.
O treinamento físico interfere no metabolismo assim como a emoção de competir. É necessário que a pessoa tenha programas de treinamento planejados, sob orientação de profissional especializado, para evitar o excesso. Quando a carga de treinamento é muito intensa em relação ao período de descanso, há recuperação insuficiente do metabolismo, o que pode causar um overreaching que, se descoberto rapidamente, pode ser recuperado em poucos dias. Se o treinamento e a recuperação não forem corrigidos, o overreaching pode levar a um overtraining, cujos sintomas mais frequentes são queda no desempenho, fadiga prematura, irritabilidade, sonolência e falta de motivação, falta de apetite, perda de peso, instabilidade emocional, inquietação. O overtrainning acomete cerca de 20% de atletas brasileiros e é frequentemente associado com quadros de infecções e depressões, sem apresentar causa clínica identificável. Os sistemas esquelético, metabólico, cardíaco - que dá suprimento sanguíneo à musculatura ativa - entram em fracasso pelo cansaço e o atleta começa a perder rendimento. Daí, que não se pode prescindir do acompanhamento médico, nem da ajuda de uma equipe interdisciplinar: fisioterapeuta, nutricionista, educador físico. Se parar, enferruja; se exagerar quebra. Há que achar o equilíbrio. A qualquer sinal, é bom aguardar nova largada.